Tolerância à seca e adaptação a solos menos férteis: foram essas características do milheto que inicialmente levaram nossa equipe a procurar informações sobre a cultura, analisando seu potencial para a região de Iporá, com atenção especial para seu uso na pecuária. Mas as vantagens do milheto não param por aí.
Tolerância à seca e adaptação a solos menos férteis: foram essas características do milheto que inicialmente levaram nossa equipe a procurar informações sobre a cultura, analisando seu potencial para a região de Iporá, com atenção especial para seu uso na pecuária. Mas as vantagens do milheto não param por aí.
Em sistemas de integração lavoura-pecuária, o milheto pode ser usado como pastagem consorciado a capim. O consórcio é uma forma de iniciar ou recuperar pastagens degradadas, porque o milheto protege o solo, recicla nutrientes e combate algumas pragas.
Esse potencial costuma ser bem aproveitado na “safrinha” após a colheita de soja ou do milho, por exemplo, em sistemas de plantio direto. A palhada do milheto, além de proteger o solo contra erosão, evitar a compactação e manter certa umidade na terra, que são vantagens do plantio direto, recicla nutrientes e reduz a população de nematoides e plantas daninhas. Isso significa menos gastos com herbicidas e maior produtividade na safra subsequente.
Na Tecnoshow, conversamos com representantes da empresa Sementes Adriana sobre a variedade de milheto ADR-300, que está no mercado há mais de 10 anos, e o híbrido ADRg-9050, um lançamento da marca especial para produção de grãos. Os dois cultivares possuem fator de reprodução de nematoides de 0,2, e 0,3, respectivamente, o que significa que reduzem a população destes parasitas de plantas.
Com relação à reciclagem de nutrientes como nitrogênio, potássio e fósforo, a empresa responsável garante que a economia equivalente em adubo na cultura subsequente do ADR-300 pode chegar a algo em torno de R$ 2,3 mil por hectare. Isso, claro, se o solo tiver sido preparado para a cultura principal, porque a palhada do milheto vai reciclar nutrientes.
Ambos os cultivares são adaptados para o Centro-Oeste brasileiro, em razão de sua tolerância à seca. Segundo o professor e agrônomo do IF Goiano, Leonardo Castro, o período adequado para plantio do milheto na safrinha é no final da estação de chuva. “O momento em que a cultura principal é colhida ainda tem umidade elevada, o que oportuniza o estabelecimento do milheto. Quando chega o período mais seco, a planta expande a raiz em busca de água, favorecendo a ciclagem de nutrientes”.
O professor também lembra que outra vantagem da espécie está no bom aproveitamento das sementes.“Os índices de perda são menores e a germinação é mais uniforme”, explica.
Essas mesmas vantagens vão aparecer quando o milheto é plantado em consórcio com capins para pastagem. “Por isso se diz que o milheto permite formar e recuperar pastagens degradadas”, conclui ele.
Outra possível aplicação do milheto é a ensilagem, substituindo milho, sorgo ou cana, que possuem custos de produção mais altos. Uma importante vantagem nesse caso é que, se o produtor for semear no fim das chuvas, a silagem de milheto provavelmente vai apresentar maior teor de proteína bruta quando comparada às silagens de milho ou sorgo.
Hoje a principal dificuldade encontrada pelos produtores de grão de milheto está no mercado para o produto. Segundo o agrônomo do IF Goiano, Estenio Moreira, a cultura exige que o produtor busque nichos de mercado e faça contratos prévios com os compradores, para evitar perder a produção ou ter que vendê-la a preços muito baixos.
Isso decorre principalmente da falta de armazéns para os grãos. “A maioria dos armazéns está ocupada por soja e milho que, inclusive, é uma das explicações para a falta de diversificação brasileira na produção de grãos”, explica o agrônomo.
Por isso, ele considera que em nossa região, nas condições atuais, o melhor destino do milheto é o consumo interno na propriedade e a venda de eventual excedente.
Em uma estimativa, o custo de produção de milheto com a semente ADR-300 fica em torno de R$310 por hectare. Levando em conta que a saca do milheto é comercializada por algo em torno de R$30, basta colher 11 sacas por hectare para pagar o investimento e, ainda, ter os benefícios que a cultura proporciona para a pecuária ou a cultura principal. Como a produtividade costuma ser maior que 11 sacas, o produtor pode vender o excedente para obter um lucro extra. Em todo caso, é preciso planejar com cuidado a produção e a venda do produto.
Este material não substitui o conhecimento especializado. Consulte sempre um engenheiro agrônomo, zootecnista, médico veterinário ou técnico agropecuário.